O desprezo já impactou minha relação com marido, amiga/os, parceira/os de trabalho, meus pais, comigo mesma e mais. Foram desgastes, dores e sobrecargas mentais e emocionais, brigas, abalo de (auto)confiança e rupturas desastrosas.
Acontece através de falas sarcásticas, reviradas de olhos, ridicularização ou julgamentos severos com intenção de ferir. Acompanha uma crença de que somos moralmente melhor do que a pessoa com quem estamos interagindo.
O desdém e a intenção de ferir não brotam do nada. Acontecem por estarmos com necessidades não atendidas, sentimentos desconfortáveis (como mágoa, ressentimento, rancor, ciúmes) e a mente contando histórias do quanto o outro está errado, é inferior, e talvez de que não nos entenda ou não se importe conosco.
Desprezar pode ser uma forma de expressar nossa busca por conexão, amor, cuidado, respeito, confiança e muitas outras necessidades e valores humanos, mas acaba sendo uma estratégia (forma de expressar) que reduz a chance de obter o que vai nutrir nossa vida e a relação.
Para cuidar de você quando o desprezo aparecer
Você pode se escutar de forma empática, se conectar para além da superfície do comportamento, do certo ou errado.
Pergunte-se:
Esse desprezo é uma manifestação de quê?
Quais sentimentos estão querendo ser vistos e considerados?
Quais necessidades estão presentes em você que se forem atendidas você terá sua vitalidade novamente?
De quais formas essas necessidades podem ser atendidas?
Na minha experiência, esse exercício de autoconexão ajuda muito a aliviar a tensão e os ruídos internos, pois quanto mais eu reprimo ou ignoro, mais intenso fica (e mais eu quero explodir/ferir/desprezar o outro ou à mim mesma). Ele também traz a atenção para o que é de fato importante para mim. Com consciência dos meus sentimentos e necessidades, posso expressar o que quero, sem ferir o outro e com mais chances de ter o que preciso.
"Eu quero que você me escute, sem me interromper."
"Eu estou cansada e quero um pouco de silêncio, a gente pode conversar depois?"
São dois exemplos de uma comunicação mais assertiva e cuidadosa, do que revirar os olhos e bufar.
Para cuidar da relação
O antídoto é criar uma cultura de apreciação e agradecimento (principalmente se o desprezo já tiver se tornado um hábito). Você pode expressar autenticamente as atitudes que valoriza e contribuem com você.
Primeiro reflita.
O que essa pessoa faz que te desperta sentimentos gostosos, quais necessidades suas o comportamento dela atende?
Em seguida compartilhe com ela:
O que ela fez ou disse e de que forma te toca, cuida do seu bem-estar?
Exemplos: "Quando você pergunta como estou me sentindo, eu vejo que você se importa comigo e que tenho espaço para me expressar, me sinto mais forte e em paz."
"Quando você faz uma cara engraçada em um momento sério e desafiante, eu me lembro que há mais formas de lidar com um problema e fico mais confiante"
Para receber apreciação, pergunte à pessoa.
Qual atitude ou fala minha, te ajuda a se sentir bem?
Criar a cultura de apreciação é uma forma de ampliar a consciência de que a relação é maior do que aquele comportamento incômodo, de mudar o foco de quem é melhor ou pior, reduzir os ataques desdenhosos e alimentar a conexão de qualidade na relação.
O desprezo é um dos "Quatro Cavaleiros do Apocalipse de um Casamento" junto com Criticismo, Defensividade e Muro de Pedra (retirada). Foram elencados por Dr. John Gottmann que há mais de 40 anos pesquisa e desempenha seu trabalho focado em casais. Quando conheci esse conteúdo, me ficou nítido o quanto ele é valioso para todas relações que nos importam e consequentemente para a nossa qualidade de vida.
Deixo aqui meu convite para que perceba se o desprezo está presente em qualquer tipo de relação que te importa e quais custos você está tendo.
Espero que essa reflexão e caminhos de apoio com a Comunicação Não Violenta te ajudem a ampliar a sintonia, confiança e o prazer na sua vida e relações.
Daniele Putnoki
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